IS0 26000 UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL ?
Jonas Leandro Flores
Hoje é muito mais comum do que há 10 anos atrás falar em Responsabilidade
Social, Sustentabilidade, consumo consciente, envolvimento com projetos sociais,
ainda bem. A responsabilidade social é reflexo de uma sociedade [que é ou
pretende ser mais] madura, pois sua origem está baseada no campo da ética e,
portanto, também no campo dos valores e dos comportamentos das pessoas,
objetivando uma mudança de atitude. É um movimento novo, mas que ganha
impulso e novos adeptos a cada dia.
Um dos grandes avanços nessa contribuição, sem dúvida, foi a criação da
ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, uma norma internacional que
pretende promover uma aliança estratégica com os principais setores da sociedade
civil e promover a inclusão social, a promoção da cidadania, a preservação
ambiental e a sustentabilidade do planeta.
O Brasil tem se destacado como protagonista na elaboração da norma em
parceria com a Suécia ao compor o grupo que elaborou a referida norma. No Brasil
foi aprovada a ABNT para acompanhar a implementação, aperfeiçoamento e
melhorias. Diferente de outras normas da ISO que tem o propósito de certificar, a
nova ISO 26000 não se propõe à certificação. Segundo declaração à Revista
Filantropia, a representante do setor industrial do grupo de trabalho da Norma, Ana
Grether, afirma que “hoje, a sociedade está cada vez mais crítica e exigente, e não é
mais a certificação que garante o reconhecimento das empresas1“.
Aí está o grande diferencial da norma: primeiro será para todas as
organizações (e não só as empresas), o desafio de promover um entendimento
sobre os princípios de Responsabilidade Social, acerca dos pontos principais da
norma. Destacaremos os princípios da norma e alguns pontos importantes que
constam nela: Governança Organizacional (transparência, conduta ética), Direitos
Humanos (princípios de não discriminação baseados nos direitos humanos, Direitos
civis e políticos, Sociais, Econômicos e Culturais), Práticas de trabalho (emprego e
1 Grether, Ana Paula. Revista Filantropia & Gestão Social Edição 53, Jul/Ago 2011, p.36
relações empregatícias, condições de trabalho e proteção social, diálogo social),
Práticas Operacionais Justas (medidas anticorrupção e anti-propina, envolvimento
político responsável, competição leal, promoção da Responsabilidade Social através
da cadeia de fornecedores e respeito pelo direito de propriedade), Meio Ambiente
(Responsabilidade Ambiental, uso de tecnologias ambientalmente amigáveis;
promoção do consumo e produção sustentável: eco-eficiência, eco design,
tecnologias limpas e ciclo de vida; Valorização de Ecossistemas, Combate a
Mudança Climática e Biodiversidade), Questões dos Consumidores (práticas leais de
negócio, marketing e informação, proteção da saúde e segurança dos
consumidores, mecanismo para Recall, provisão e desenvolvimento de produtos e
serviços socialmente e ambientalmente benéficos, serviços pós consumo e
resolução de disputa, proteção de dados – privacidade – do consumidor, Consumo
Sustentável, Educação e Conscientização) e por fim o Desenvolvimento Social
(contribuição em três esferas: Social, Econômico e Envolvimento comunitário).
Vendo todos esses elementos e sua complexidade ante todos esses
princípios, ações e práticas comportamentais, fica claro que uma certificação
somente não traz todos os elementos necessários a essa mudança de paradigma.
São necessários princípios e ações como as regradas pela norma ISO 26000 que
poderão contribuir e muito no cenário brasileiro de desigualdade e frente a suas
graves questões sociais e culturais que, historicamente alimentam uma prática de
corrupção, que vai desde o tão popular “jeitinho brasileiro”, que se concretiza no
cotidiano, desde o ato de ‘furar a fila’ ou receber um troco errado e ficar quieto, até
os crimes de colarinho branco envolvendo políticos ou empresários em seus altos
postos públicos ou privados. Essa mudança é cultural, de paradigma, e portanto,
lenta, no mesmo compasso que foi elaborada a ISO 26000 onde era previsto 3 anos,
como as outras normas, levou 5 anos.
Um grande e poderoso aliado na consecução e perseguição dos objetivos da
ISO 26000 e seus princípios poderá ser a internet. A rede mundial de computadores
pode ser uma grande aliada na transparência de ações, na concretização dos
comportamentos, na prestação de contas, tomadas de decisão e também no
relacionamento com a sociedade num fenômeno recente que, apesar de virtual,
causa impactos reais: as redes sociais. Há um grande otimismo com a nova norma
no cenário internacional. No Brasil há uma receptividade positiva já na atual etapa
de divulgação.
Jonas Leandro Flores
Grupos de Estudos em Responsabilidade Social e Sustentabilidade ABRH
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